Alimentação é aliada do envelhecimento


Idosos precisam manter dieta equilibrada, com frutas, legumes, grãos, cereais e proteínas

A nutrição e o estilo de vida estão intimamente relacionados às condições de saúde desde o nascimento e, na medida em que o tempo passa, tornam-se ainda mais importantes para que o processo de envelhecimento seja vivenciado com a máxima qualidade. O declínio progressivo das funções fisiológicas ao longo da vida adulta aumenta a importância da alimentação adequada, uma vez que o envelhecimento está associado ao surgimento de doenças crônicas, algumas relacionadas, inclusive, a fatores nutricionais. É sabido que a ingestão de alimentos em geral diminui com a idade em razão de alterações fisiológicas que incluem mudanças no funcionamento do aparelho digestivo, na capacidade mastigatória, na percepção sensorial, na composição e no fluxo salivar, entre outros. Independentemente dos fatores, a alimentação a partir dos 50 anos deve acompanhar as mudanças fisiológicas que ocorrem nessa etapa para que novos hábitos alimentares sejam adquiridos com o objetivo de propiciar uma vida mais longeva e saudável.
A perda do paladar causada pela diminuição do tamanho das papilas gustativas também faz parte do processo natural de envelhecimento do organismo e influencia diretamente na alimentação. Em geral, o problema é compensado com o maior consumo de gorduras, açúcar e sal no preparo dos alimentos para dar mais sabor, embora esses três ingredientes devessem ficar fora da dieta de todos os idosos. Outra condição fisiológica que prejudica a alimentação é a dentição, seja pelo fato de ficar mais sensível ou pelo uso de próteses que dificultam a mastigação de alimentos mais duros, a exemplo das carnes e de frutas e legumes in natura. O uso de medicamentos também pode influenciar no apetite deste grupo que, em geral, apresenta multiplicidade de doenças. Algumas dessas drogas terapêuticas interferem na digestão, na absorção e no metabolismo de nutrientes e têm influência, inclusive, na ocorrência de desnutrição.
A nutricionista e professora Dra. Myrian Spinola Najas, coordenadora da unidade hospitalar da Disciplina de Geriatria e Gerontologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), lembra que a diminuição do suco gástrico nos idosos prejudica a digestibilidade e tem impacto na absorção de folatos, vitamina B12, cálcio, ferro e zinco, elevando significativamente o risco de anemia. “A proteína animal, que costuma ser de difícil mastigação e digestão, é a primeira a ser eliminada da dieta e é esse alimento o responsável pela manutenção da massa muscular, que apresenta uma redução fisiológica após os 50 anos. Portanto, é necessário manter ou mesmo aumentar a ingestão de proteínas de origem animal como frango, carnes vermelhas sem gordura, peixes ou ovos nas principais refeições nesta fase da vida, porque só a proteína vegetal não consegue suprir toda a necessidade, a não ser que seja consumida em quantidade muito elevada, o que geralmente não acontece”, explica a professora.
Fonte de cálcio, o leite é outro alimento que costuma ser eliminado do dia a dia dos idosos quando, na verdade, o ideal seria o aumento do consumo, pois as necessidades diárias de cálcio aumentam para 1.200mg por dia nessa fase – enquanto no adulto é de 800mg. O iogurte também acaba sendo substituído pelo queijo, que tem mais gordura. Além disso, o tradicional feijão com arroz, rica fonte de nutrientes, está sendo substituído no jantar por uma xícara de leite e pão com manteiga, hábito cada vez mais comum e que não é bem visto pelos médicos e nutricionistas como opção saudável para finalizar o dia. Embora os alimentos não possam curar as doenças degenerativas, são os nutrientes recebidos durante as refeições que colaboram para a manutenção da saúde e para uma longevidade com qualidade.
Segundo o médico nutrólogo Dr. Nelson Iucif Júnior, diretor do Departamento de Geriatria da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN), o cenário é preocupante, pois existe uma porcentagem significativa de desnutrição nesse grupo da população, tanto os inseridos na comunidade como os internalizados, deixando-os mais suscetíveis a doenças, infecções e até mesmo interferindo no tratamento de patologias. “Embora os estudos variem de acordo com a amostragem, em torno de 8% a 10% dos idosos têm grau de comprometimento nutricional. Esse número se eleva para 30% a 45% naqueles que estão institucionalizados e cresce ainda mais nos hospitalizados”, acentua o médico.
Obesidade
A última Pesquisa de Orçamentos Familiares do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (POF-IBGE) mostra que 32% dos homens idosos brasileiros são obesos, e essa porcentagem aumenta para 42% na população feminina. O problema geralmente ocorre devido à dieta, que é muito focada no consumo de gorduras e pobre em proteínas. Nas pessoas adultas, o ato de engordar aumenta a massa muscular para sustentar o peso. Já nos idosos acontece o efeito contrário, pois o acúmulo de peso está relacionado à perda de massa muscular, que ocorre porque o organismo não consegue fazer a síntese proteica com tanta eficiência quanto antes, levando a massa muscular a ficar abaixo da massa corporal total. “Denominamos esse processo de obesidade sarcopênica, que é péssima, pois fragiliza o idoso mais sensível e suscetível a doenças metabólicas e infecções, bem como aqueles que têm o sistema cardiovascular mais debilitado”, explica o nutrólogo Dr. Nelson Iucif Júnior.
Diferentemente do adulto, que pode fazer uma dieta restritiva e praticar atividade física, os idosos obesos com baixa massa muscular correm o risco de diminuí-la ainda mais e chegar à sarcopenia, cuja prevalência nessa população supera os 15%. Por isso, a restrição alimentar costuma ser pequena e é fundamental indicar a prática de exercícios na tentativa de trocar a massa gorda pela massa magra. “As orientações devem ser permanentemente seguidas, pois, quando o idoso volta a engordar, ganha mais gordura do que massa muscular”, ressalta o médico. A classificação da obesidade em idosos também é diferente: enquanto um indivíduo mais jovem precisa ter o índice de massa corporal (IMC) de até 25 para ser considerado no peso ideal, no idoso o IMC considerado bom fica entre 28 e 30.
Equilíbrio alimentar e microbiota
O idoso pode e deve comer de tudo e a Dieta do Mediterrâneo é considerada ideal nessa fase da vida, porque contém frutas, legumes, verduras, oleaginosas e carnes magras, principalmente peixes. “Não podemos esquecer os cereais integrais e os grãos, como feijão, lentilha e grão de bico, que também precisam fazer parte da alimentação do idoso”, enfatiza a professora Myrian Spinola Najas. Por ser uma proteína de fácil mastigação e digestão, o peixe pode ser uma alternativa saudável para o almoço e o jantar. O hábito dos idosos de se alimentarem apenas com sopas e caldos repletos de carboidratos e, na maioria das vezes, sem proteína, torna esse tipo de refeição deficiente em nutrientes. Além da falta da carne, muitas substâncias e vitaminas se deterioram no aquecimento, reforçando a importância de inserir frutas e vegetais in natura na alimentação.
Fonte: https://nutricao.t4h.com.br/noticias/alimentacao-e-aliada-do-envelhecimento/?cn-reloaded=1